Mecanismos Biológicos, Genéticos e Terapêuticos no Transtorno do Espectro Autista: Uma Revisão das Evidências Recentes
O Transtorno do Espectro Autista (TEA) é uma condição neuropsiquiátrica caracterizada por déficits na comunicação social e comportamentos repetitivos. Este artigo visa revisar os mecanismos biológicos, genéticos e terapêuticos do TEA, com base em estudos recentes que investigam os fatores genéticos e ambientais, as interações moleculares e celulares, e as abordagens terapêuticas emergentes. A revisão incluiu estudos que destacam a relação do autismo com a epilepsia, esquizofrenia, e TDAH, além de abordagens terapêuticas inovadoras como o uso de lítio e terapias genéticas. Os resultados indicam uma inter-relação complexa entre os fatores genéticos e ambientais, com implicações para novas intervenções terapêuticas. Palavras-chave: Autismo, genética, mecanismos cerebrais, terapias, lítio, fatores ambientais.
Franciéle Scalcon
3/19/20253 min read
1. Introdução
O Transtorno do Espectro Autista (TEA) é um dos distúrbios do desenvolvimento neuropsiquiátrico mais prevalentes, afetando aproximadamente 1 em cada 54 crianças nos Estados Unidos (Maenner et al., 2020). Caracteriza-se por dificuldades na comunicação social, na interação e comportamentos repetitivos, com ampla variação nos sintomas e na gravidade. Embora o autismo tenha sido reconhecido há mais de um século, os mecanismos subjacentes permanecem pouco compreendidos. Recentemente, diversos estudos têm investigado a interseção entre genética, fatores ambientais e as características cerebrais envolvidas no TEA. O presente artigo visa discutir as principais descobertas científicas sobre esses aspectos, com ênfase nas novas abordagens terapêuticas.
2. Mecanismos Genéticos e Biológicos
O papel da genética no TEA tem sido amplamente estudado, com vários genes identificados como potenciais contribuintes para a condição. O gene SHANK3, por exemplo, está associado à síndrome de Phelan-McDermid, uma condição genética que inclui o TEA como uma de suas manifestações (Durand et al., 2020). Estudos recentes também identificaram mutações no gene DDX53, localizado no cromossomo X, como um fator de risco adicional para o autismo, particularmente em homens (Krogh et al., 2021). Além disso, pesquisas apontam que o gene neuropilin2 regula a migração de neurônios inibitórios no cérebro, afetando a formação de circuitos cerebrais e contribuindo para os comportamentos autistas (Gupta et al., 2021).
Esses achados indicam que o autismo tem uma base genética complexa e multifatorial, em que múltiplos genes podem influenciar o desenvolvimento cerebral e as funções cognitivas. Além disso, é importante considerar que a genética do autismo é frequentemente interligada com outros transtornos neurológicos, como epilepsia e esquizofrenia, observados em uma proporção significativa de indivíduos com TEA (Baker et al., 2021).
3. Fatores Ambientais no Desenvolvimento do Autismo
Além dos fatores genéticos, evidências sugerem que fatores ambientais, como a exposição à poluição do ar, também desempenham um papel crucial no aumento do risco de autismo. Um estudo recente indicou que a exposição pré-natal a poluentes, como partículas finas e óxidos de nitrogênio, pode alterar o desenvolvimento cerebral, provocando neuroinflamação e distúrbios no desenvolvimento de circuitos cerebrais críticos para a comunicação social e o comportamento (Alvarado et al., 2021). Essas descobertas ampliam a compreensão sobre como fatores ambientais podem interagir com a predisposição genética para moldar o desenvolvimento do TEA.
4. Terapias Emergentes no Tratamento do Autismo
Em relação às terapias, várias abordagens emergentes têm sido exploradas. O uso de lítio, tradicionalmente empregado no tratamento do transtorno bipolar, tem mostrado resultados promissores no tratamento do TEA. Um estudo revelou que o lítio pode restaurar a função cerebral e melhorar os comportamentos em modelos de camundongos com mutações no gene Dyrk1a, associado ao autismo (Zhang et al., 2020). O lítio demonstrou normalizar a conectividade neural e melhorar aspectos comportamentais como a ansiedade e as dificuldades sociais, o que sugere seu potencial terapêutico para indivíduos com autismo.
Outra abordagem terapêutica em estudo é a terapia genética, que visa corrigir defeitos moleculares subjacentes ao TEA. Pesquisas sobre o gene SHANK3 mostraram que intervenções genéticas podem restaurar a produção de mielina e melhorar a função cerebral em modelos de camundongos com mutações neste gene (Gupta et al., 2020). Essas descobertas sugerem que a manipulação genética pode representar uma direção promissora no desenvolvimento de tratamentos para o autismo.
5. Conclusão
O estudo do autismo continua a avançar com a integração de novas descobertas genéticas, moleculares e terapêuticas. Os avanços recentes em genética têm proporcionado uma melhor compreensão dos mecanismos subjacentes ao transtorno, enquanto os fatores ambientais estão começando a ser reconhecidos como influências importantes no risco de autismo. Além disso, as abordagens terapêuticas, como o uso de lítio e terapias genéticas, oferecem novas perspectivas para o tratamento do TEA. No entanto, mais pesquisas são necessárias para validar essas terapias em humanos e para entender melhor a complexa interação entre genética, ambiente e desenvolvimento cerebral.
Referências
ALVARADO, S. et al. Air pollution exposure and autism risk during critical periods of brain development. Environmental Health Perspectives, v. 129, p. 970-977, 2021.
BAKER, J. et al. Genetic overlap between epilepsy and autism spectrum disorder. Journal of Neuroscience Research, v. 49, p. 113-119, 2021.
DURAND, C. M. et al. SHANK3 mutation and neurodevelopmental disorders. Journal of Molecular Psychiatry, v. 31, p. 15-23, 2020.
GUPTA, A. et al. Neuropilin2-mediated migration of inhibitory neurons affects autism-related behaviors. Nature Neuroscience, v. 24, p. 106-114, 2021.
KROGH, A. et al. DDX53 gene variants associated with autism in males. Autism Research, v. 12, p. 43-51, 2021.
Zhang, L. et al. Lithium as a potential treatment for autism: A study in mice models. Neuropharmacology, v. 16, p. 234-242, 2020.
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